O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami exige investigação sobre remédios vencidos destinados aos indígenas Yanomami
O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Kopenawa, cobrou, nesta quinta-feira (1º), investigação sobre os remédios vencidos desde 2021 que seriam destinados aos indígenas Yanomami e foram encontrados pela Polícia Civil em uma casa abandonada no bairro São Francisco, na zona Norte de Boa Vista.
A HAY é a associação mais representativa do povo Yanomami. No ano de 2021, a Terra Indígena Yanomami já enfrentava crise na saúde. A falta de medicamentos foi alvo duas vezes de operação da Polícia Federal.
Falta de medicamentos na saúde indígena Yanomami
O vice-presidente do HAY, Dário Kopenawa, pediu que órgãos como o Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal (PF) e o Ministério da Saúde apurem o caso e investiguem a gestão que à época coordenava o Distrito Sanitário Indígena Yanomami (Dsei-Y), ligado ao Ministério da Saúde e responsável pelos medicamentos.
Dário expressou sua indignação com a situação, afirmando que os remédios vencidos iriam fazer tratamentos para salvar as crianças e curar doenças perigosas. Ele exigiu que as autoridades investiguem o caso e apurem as responsabilidades. Segundo a liderança, esses remédios poderiam ter poupado a vida de muitas crianças e adultos que morreram por falta de assistência.
O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) foram procurados para comentar o assunto, mas ainda não se manifestaram.
Colaboração da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai)
A Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, foi procurada e informou que repudia o descarte dos medicamentos e que irá colaborar com as investigações, fornecendo todas as informações necessárias às autoridades.
A Sesai destacou que desde o início da atual gestão, o Ministério da Saúde trabalha no fortalecimento de medidas e ações para a reestruturação dos Distritos Sanitários Indígenas, visando retomar a assistência aos Yanomami, após anos de abandono e negligência à saúde indígena.
Descoberta dos remédios vencidos
Agentes da Polícia Civil investigavam denúncias sobre o tráfico de drogas quando encontraram os remédios vencidos em uma casa abandonada. Entre os medicamentos, estavam Amoxicilina, Nistatina, Cloridrato de lidocaína e Ivermectina.
Dário afirmou que esses medicamentos teriam sido fundamentais para tratar doenças como pneumonia, infecções por fungos e vermes, que são problemas enfrentados pelas crianças Yanomami.
Ele cobrou investigação sobre a gestão passada do Distrito Sanitário Indígena Yanomami, questionando quem eram os responsáveis pelo abastecimento e distribuição dos remédios. Dário destacou que é necessário investigar as pessoas envolvidas e como a gestão anterior não cuidou adequadamente da saúde na Terra Yanomami.
Colaboração entre a Polícia Civil e a Polícia Federal
Os policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) ao encontrarem os medicamentos vencidos, acionaram a equipe da Delegacia de Repreensão a Roubos e Furtos (DRCAP). Durante as buscas, constatou-se que os medicamentos eram destinados ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y)
A DRCAP, então, acionou a Polícia Federal para continuar com as investigações. Os remédios foram encontrados jogados em sacolas e caixas, alguns sujos com poeira e terra. Ainda não houve pronunciamento do Ministério da Saúde sobre o assunto.
Operação Yoasi
Em outubro de 2023, a Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Yoasi, que investiga o desvio de recursos e lavagem de dinheiro relacionados aos medicamentos destinados ao povo Yanomami. A primeira fase da operação, deflagrada em novembro de 2022, investigou o suposto esquema que deixou mais de 10 mil crianças Yanomami desassistidas.
A maior Terra Indígena do Brasil, a Terra Indígena Yanomami, enfrenta uma grave crise humanitária e sanitária, com dezenas de adultos e crianças sofrendo de desnutrição grave e malária. Desde janeiro de 2023, a região está em emergência de saúde pública.
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